Certa vez uma pessoa me perguntou se alguma vez parei para pensar em determinadas pessoas que entram em nossas vidas com uma espécie de “missão” a ser cumprida, ajudar, ensinar e depois disto partem. A primeira pessoa com quem me relacionei logo que cheguei a SP, me deixou um legado que ela jamais soube o quanto sou agradecida por isto. Era um sábado à tarde chuvoso, ali num Shopping, fui convocada a ter uma “conversa”. Depois de muito resistir a ir, fazer birra, trazer à tona meu lado mais mimado eu me rendi e fui. Fiquei lá resistente, insistente, retrucando aquilo que a outra pessoa estava tentando fazer, não por mim, fazia por ela, que era fechar o ciclo. Aquele ciclo. Fechâ-lo, nos fez abrir um outro que perdura entre nós até hoje. Depois de um tempo, isto me ajudou a “corrigir” um comportamento que eu repetidas vezes adotava em Salvador. O de usar reticências. Passei a usar mais os pontos. Algumas vezes pontos finais. Outros pontos de conclusão de parágrafos ou capítulos.
Tive um relacionamento longo e na verdade foi longo, porque em todas as vezes que eu pensei em por um ponto final, veio aquele velho hábito de colocar reticências o que só fazia adiar o inadiável. E mesmo após o fim, algumas situações se apresentaram como tentadoras a abrir uma janela e quando quase sucumbi a isto, algo me fez lembrar aquela história acima.
Até pouco tempo, vivenciei situações e sentimentos novos. Alguns antigos, porém completos. Limpos. Dizer não para mim, fez com que o universo falasse sim. Dei-me conta de que quando pus pontos, ganhei um pedacinho de terra fértil dentro de mim, sem ervas-daninhas, mais fácil de plantar, mais rápido de florescer. Relacionamentos não dependem apenas do arado alheio, mas do nosso próprio jardim também. Das nossas flores, dos nossos espinhos. Do jeito que adubamos o nosso coração. Eu gosto muito de usar pó de pirlimpimpim. É um agrotóxico do bem, que me fez perceber em mim flores raras, lindas, coloridas, delicadas, sensíveis e acima de tudo naturais. Diferente das flores de plástico que teimava em deixar na mesa de casa. Só que coisas naturais estão sujeitas a eles: fenômenos da Natureza. Inexplicáveis ou não. Mas fenômenos. De nós, seres humanos, do universo, da vida.
E mesmo após o furacão que em poucos minutos destruiu todo um jardim, interrompendo a época da colheita de uma certa forma consigo me sentir agradecida, pelos sonhos, pelas visões, pelas sensações, pela certeza de que muita coisa na qual acredito existe e é possível sim. Esta certeza, ainda que não me traga a fome hoje, me fez dormir bastante ontem e acordar com o mapa de onde escondo os meus brotos.
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