quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Young

"Num amor que não conhece o patético das costeletas ou o papelão de um tropeço. Um sentimento desses, está claro, pode mudar todas as pedras de lugar. Içar a poita de um navio naufragado. Arrancar Orlando do seu castelo. Fazer Orlando dar aquele seu maldito e indefinido sexo. Amor, paixão, ódio, nada consegue provar se há diferença entre eles. De igual, para começar o efeito de mudança sobre si mesmo e, meu rapaz, mudar não é coisa para qualquer um. Por isso tem tanta gente que não ama, nem é amado. São os que não aguentam levantar a tampa que os protege do incerto, e mudar. Pois a paixão é incerta, não aceitando o estabelecido. O amor, pior, engana, garantindo que poderá ser estável e infinito. E o ódio, rapaz, esse é sempre eterno. Portanto, quem é que não ama, não se apaixona, não odeia? Os covardes? Com certeza. Os covardes, entretanto, sábios. Naquele conceito de sabedoria que mata você de velho. E morrer de velho, convenhamos, é a coisa mais humilhante do mundo."

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Deja Vu

Não era o meu caminho. Mas não hesitei nem um pouco ao ver aquele intinerário que costumava a me levar a você. Durante o caminho fui revivendo cada sensação de ansiedade e urgência. Lembrei do enorme tempo que levei para chegar na primeira vez que fui. Chovia torrencialmente e eu não fazia menor idéia para que lado ir.
Vi os coqueiros, senti o vento frio que vem dos mares à noite. Andei, com um nó na garganta, por toda aquela calçada esburacada ontem as pessoas ajeitadas costumam andar com a tradicional falta de pressa das pessoas quem moram na praia. Ouvi o barulho ensurdecedor daquelas casas de show de gosto altamente duvidoso e descobri que eles não cobram couvert artístico nas quartas e quinta, passei na porta daquela pseudo rodízio-churrascaria-pizzaria de gosto mais duvidoso ainda. Passei pela lavanderia, local bastante frequentado pelas suas roupas. E vi o movimento na barraca de tapioca. Aquela lista infinita de sabores: tapioca com doce, com salgados, com gosto exótico, enfim, para todos os gostos. E a baiana do acarajé? Continua lá com seus trajes e pose de "uma das quituteiras mais famosas da Bahia", distribuindo as fichas para nativos e estrangeiros enquanto as ajudantes servem a freguesia usando um modelo interessante de lógistica: "quem chegou primeiro? Próximooooo..."
Cheguei à rua do prédio amarelo. Ele continua lá, com seu grande portão da garagem na frente. A diferença é que a última janela não fica mais aberta, nem as luzes acessas.

Alguém me disse que a mudança repentina de destino na quarta-feira foi um ato falho. Eu tenho por mim que foi "apenas" saudades.

domingo, 3 de agosto de 2008

No inspiration

Quer coisa mais chata ter tanta coisa para escrever e não saber por onde começar?

Cortázar

"Toco a sua boca, com um dedo toco o contorno da sua boca, vou desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão, como se pela primeira vez a sua boca se entreabrisse, e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar. Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que a minha mão escolheu e desenha no seu rosto, e que por um acaso que não procuro compreender coincide exatamente com a sua boca, que sorri debaixo daquela que a minha mão desenha em você."