quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Memorabilia

Tive um sonho no final de semana. Eu visitava a casa de Clarice Lispector, era tudo tão real, um casarão que conservava todas as coisas intactas da escritora, como se o tempo não tivesse passado. Mesmo em sonho eu sei ainda hoje da textura da mesa de quando passei a mão e busquei um dos originais que repousava num canto. Abri o livro com cuidado, estava um pouco deteriorado por causa das traças, não resisti a cheirá-lo como sempre faço com livros novos (e com quase todas as outras coisas), e este não tinha cheiro, mas deixava claro nas suas folhas já amareladas o peso do tempo que estava por ali.

Cheiro que traz lembrança. Foi isto que aconteceu comigo esta semana. Como um rastro, uma fumaça, despertando todos os sentidos. Olfato sempre foi o meu sentido mais sinestésico. O cheiro conhecido, característico, que me remeteu a momentos, a cores, a calores, a frisson, ao coração palpitante e sou a cúmplice na hora do almoço do meu próprio riso e choro simultâneos quando me entrego as minhas memorabilias e me permito sentir saudades. O sentimento dúbio, que mora no passado querendo se fazer presente.

domingo, 16 de outubro de 2011

Day Off

Há dias que eu simplesmente me deixo levar pela preguiça e procrastinação. Nos dias que eu preciso e acabo me permitindo isto a sensação é incrível. Sim, eu sei o quanto de tarefas, coisas e obrigações da vida prática eu preciso dar conta, mas o dilúvio lá fora, o resfriado e o corpo febril são os melhores álibis para corroborar a exploração que faço de cada cantinho da minha cama. Meu corpo está cansado, uma semana extenuante que passou num piscar de olhos e eu aqui pensando se considero domingo como o primeiro dia da semana, como informa o calendário oficial ou se simplesmente considero como o último, como quase todo mundo faz. Eu gosto deste lado coringa do domingo. Dependendo do meu estado de espírito eu o adapto ao que quero. Pode ser o dia do recomeço ou do fechamento. E daí me percebo no mundo da filosofia, culpa da TV que não transmite nada que me atraia, mas acho difícil qualquer coisa me atrair mais do que a sensação de quase-sono, aquele “tô/não tô” onde um brainstorm de questões passeiam em minha mente e eu brinco de ligar os pontos enquanto o corpo repousa. Movimento contrário para equilibrar as coisas. Dei bastante ocupação ao corpo nestes últimos dias, a mente livre, sem usar o senso crítico. Chamo estes momentos de “cheirar café”. Quem trabalha com o olfato tem este hábito de cheirar o café para tentar tirar o rastro do cheiro anterior. Deixar a mente livre sempre faz um bem imenso e deixar o corpo também. Livre, jogado, estirado, um dia de folga do mundo lá fora, curtindo o daqui de dentro, sem me importar, só me deixando ir, sem precisar decidir se domingo é o primeiro ou o último dia. Sem precisar decidir qualquer outra coisa hoje.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O Que Não me Mata

De repente me dei conta do porque não sei e porque não posso viver sem você, ou pelo menos fingir que vivo sem você. A sua companhia é constante desde que me entendo por gente e sempre, sempre, sempre tentei te afastar. Te deixar bem longe era o objetivo, assim eu acreditava que você não atrapalharia os meus planos. O invisível, imaginário, capaz de levar horas reais de sono. Amadurecer tem destas coisas, te ensina a discernir sobre aquilo que você pode ou não modificar. Por isto eu me rendo. Não a você, mas ao seu papel, o de me tirar da inércia, me desafiar, o de me tornar melhor e maior. As melhores recompensas sempre vieram após nossas partidas de xadrez e eu mal posso esperar para o meu próximo cheque-mate.

sábado, 1 de outubro de 2011