domingo, 27 de novembro de 2011

Adaptação

Há umas duas semanas atrás, eu pedi a ajuda de um dos meus gerentes num projeto novo do trabalho. Ele sentou na minha estação de trabalho e começou a esboçar a solução. Por ser canhota, uso o mouse do lado esquerdo. Ele ficava com os braços invertidos, usando o mouse e teclado, sugeri que puxasse o fio do mouse e o colocasse no lado direito e a resposta foi objetiva: “não precisa, eu me adapto as coisas.” Ele falou sem nenhuma arrogância, pelo contrário, numa naturalidade e pelo que eu conheço dele há quase 02 anos, isto é a mais pura verdade. Adaptar-se para ele é mais uma função do dia-a-dia, como comer, beber, respirar. Não há nada que solicitemos a ele, que ele não arrume um método de nos ensinar da forma que nos facilite e não da forma que ele faria.

Esta situação do trabalho me fez lembrar de uma árvore gigantesca que existe no meu caminho de casa ao metrô que faço quase todos os dias. Há muito tempo eu a tenho observado, principalmente durante as mudanças de estação. O cenário meio seco, com o fundo atrás todo cinzento no inverno, o tapete amarelo no chão ao seu redor na primavera e o seu verde reluzente desta semana.

Eis que paro para pensar no quanto algo que está imóvel tem a capacidade de reagir, de se adaptar às leis da natureza e às situações que o cerca. Meu corpo faz a mesma coisa. Na primeira noite que passei em SP, não consegui dormir, apesar de usar três edredons, devido ao “frio” de 21º C que me fazia bater os dentes. Hoje, eu praticamente durmo nua de tanto calor que sinto quando faz 21º C à noite.

Estamos o tempo todo fazendo isto. Nos adaptando, nos moldando, reagindo da maneira que sabemos às coisas que são inevitáveis e muitas vezes nem nos damos conta disto. E não vejo isto como algo ruim. Pelo contrário, esta característica já nasceu conosco, a gente que às vezes foge dela, no inevitável hábito de se manter na zona de conforto, de ficar no conhecido, na cabeça-dura e caminhando sempre pelos mesmos caminhos. É o gerente, a natureza e o meu corpo me respondendo a perguntas que ainda nem fiz.

Estamos quase no último mês do ano, estou aqui me preparando para montar a árvore de Natal e a atividade cerebral é sempre a mesma deste período, pensar em tudo o que aconteceu neste ano e acredito que foi o ano com a maior quantidade de situações novas, desconhecidas, rotineiras, desafiadoras, que me trouxe à tona diversas facetas minha que eu nem conhecia ou que estavam lá adormecidas.

Adaptar-se não é abrir mão do “seu jeito” de ser ou fazer as coisas. Adaptar-se é crescer. É expandir, criar e ganhar novas maneiras de fazer as coisas do nosso jeito.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

O Almodóvar que habita em mim

As opiniões e adjetivos são diversos. Desde ruim e bizarro a maravilhoso e genial. Para mim, o que fica em A Pele Que Habito é a comprovação do papel que Almodóvar exercer em minha vida. O de trazer resposta, se não prontas, mas pistas sobre o meu próprio universo feminino e tudo isto pela alma de um homem. São raros, mas eles existem e Chico Buarque está ai para provar que Pedro Almodóvar não é o único. A Pele Que Habito está longe, bem longe de ser um ótimo filme do ponto de vista cinematográfico, para mim que considero Volver uma poesia e Fale Com Ela uma obra prima, a Pele Que Habito é um filme bem feito. Mas nem por isto deixou de me tocar, de me sensibilizar e de me fazer pensar como os outros dois. O último filme que me fez sair do cinema com a sensação de ter deixado a mente na sala de projeção foi Cisne Negro. Um filme aparentemente diferente do Almodóvar, mas que depois de algumas horas, eu percebi a ligação que a minha alma feminina fez entre eles. A loucura e passionalidade (parece que uma não vive sem a outra, não é?) expostas de uma maneira tão visceral. E mesmo daquela forma Almodóvar de ser que já conhecemos, exagerada, hiperbólica, surreal, os personagens e os sentimentos são sempre humanos. É isto que me encanta neste homem exagerado, não quando ele é mais. É quando ele é menos. São os contra-tempos das cenas. A humanidade dos personagens após as falas eloqüentes, os diálogos non-sense, o derramamento de sangue. Suas personagens femininas falam até hoje comigo, todos os dias. Temos conversas longas, sem sentido, dramáticas, lacrimejantes e quase sempre loucas e cheia de paixão.

Nesta pele que eu habito há quase 33 anos, existem homens como Chico Buarque que me faz sonhar e flutuar e há homens como Almodóvar que me faz enloquecidamente delirar.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Torna-te Aquilo que Tu és – I: Here Comes The Sun

Algo que eu nem havia percebido que estava sentindo falta: Sol. Seus raios. Sentir aquecer minha pele, já meio desbotada por ficar tantos meses escondida em calças, mangas longas e casacos. Tenho sentido uma energia absurda dentro de mim, culpa do Sol ou do Centrum que ando tomando, vai saber, mas prefiro creditar isto ao Astro Rei. A luz sempre exerceu um papel determinante no caminho que venho trilhando por toda a minha vida. É algo que me faz sentir mais leve, mais sorridente, me faz cantar e mexer pernas e braços pelas ruas como se não tivesse mais ninguém ao redor. Revigorada. Achei a palavra certa. Quase como a própria metáfora do sol levando as nuvens escuras e abrindo o novo céu azul. Clichê? Sim. Sempre fui e sempre serei um monte deles. Só mudo os vocábulos para escrever sobre eles e inventar novas metáforas para no final ter a certeza que vivo escrevendo sempre sobre as mesmas coisas, sobre os mesmos ciclos, sobre as idas e vindas, sobre as viagens solitárias e intransferíveis na roda-gigante pessoal de cada um de nós. A verdade é a de que as viagens têm sido mais prazerosas, mais divertidas, aproveitando melhor a vista, pois já não tenho tanto medo e consigo embarcar nisto de olhos abertos. Nasci assim, uma criança destemida, falante, curiosa, de uma inquietude positiva, desbravadora de uma terra bem colorida e cheia de luz. Em alguns momentos perdi contato com isto e me vi procurando mapas e bússolas que me indicassem o caminho da rota. Esqueço que é só olhar para cima. O centauro não tem apenas os pés no chão mirando as estrelas, muitas vezes ele busca a luz, a claridade. É difícil de explicar, mas quando você é tocado e invadido por determinados sentimentos e sensações, é impossível viver sem eles. Por isto, apesar dos momentos de tristeza, irritação e cansaço, me dei conta de que desaprendi a como ser infeliz. “Tenho dias lindos, mesmos quietinhos”. – E eu também, Caio, eu também. Tenho ido de encontro ao que me espera e talvez pela espera já não ser mais minha, acabado sendo sempre surpreendida. Tenho sido sempre grata ao Centrum e ao sol por me trazer dias tão abençoados e iluminados e por não me fazer esquecer daquilo que sou feita. Amém.