Tive um sonho no final de semana. Eu visitava a casa de Clarice Lispector, era tudo tão real, um casarão que conservava todas as coisas intactas da escritora, como se o tempo não tivesse passado. Mesmo em sonho eu sei ainda hoje da textura da mesa de quando passei a mão e busquei um dos originais que repousava num canto. Abri o livro com cuidado, estava um pouco deteriorado por causa das traças, não resisti a cheirá-lo como sempre faço com livros novos (e com quase todas as outras coisas), e este não tinha cheiro, mas deixava claro nas suas folhas já amareladas o peso do tempo que estava por ali.
Cheiro que traz lembrança. Foi isto que aconteceu comigo esta semana. Como um rastro, uma fumaça, despertando todos os sentidos. Olfato sempre foi o meu sentido mais sinestésico. O cheiro conhecido, característico, que me remeteu a momentos, a cores, a calores, a frisson, ao coração palpitante e sou a cúmplice na hora do almoço do meu próprio riso e choro simultâneos quando me entrego as minhas memorabilias e me permito sentir saudades. O sentimento dúbio, que mora no passado querendo se fazer presente.
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