Prefiro falar da velhinha do guarda-chuva grande que chegou minutos antes de começar o filme subindo lentamente os degraus amparada por uma jovem que deveria ser neta ao algo do tipo. Não havia lugares para que as duas sentam-se uma ao lado da outra, a solução foi a jovem sentar-se numa fileira e a senhora do guarda-chuva na fileira acima ao lado da menina de casaco rosa. Pois bem, apesar de 10 em 10 minutos ela fazer sinal de positivo para a jovem da fileira abaixo, os olhos estavam fixos naquela telona, assistindo atentamente à película. Não acredito que ela estivesse preocupada em olhar a fotografia do filme, nem que tenha atentado para a trilha sonora, o que ela queria mesmo era assistir ao filme sem compromisso. E assim foi durante os 124 minutos de exibição. Uma interação total com os personagens. Os olhos não piscavam e os lábios pintados de vermelho se pronunciavam sempre, ora para alertar um dos cegos de que ele iria esbarrar em algo, ora para orientar a Julianne Moore a corta o pênis do Gael com a tesoura pendurada na TV. Enquanto isto, a menina de casaco rosa não sabia se achava mais fascinante acompanhar o filme pelos olhos da velhinha que narrava o filme como se ele fosse uma sessão de Supercine misturada com novela das oito ou se atentava à treva branca de Saramago e Meirelles.
Não importa que tipo de visão tenhamos, o cinema, o bom cinema, as boas histórias têm sempre esta capacidade de nos emocionar, nos transportar para vários mundo, nos transformar em narradores, torcedores, sofredores... A menina do casaco rosa agradece à velhinha do guarda-chuva grande pela companhia anônima e pela emoção naquela sala escura.
Um comentário:
Gostei da história, bonita!!
Beijos.
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