Mais do que companhia constante, você sempre foi o equilibro, o apoio, o que me mantinha de pé e por muitos anos fomos assim: eu e você. Uma cumplicidade, uma simbiose, um jogo de interesse. Eu não caia, mas você não me deixava correr. Pergunto-me quando você surgiu, esta forma de apêndice que eu sempre tive medo do dia em que supuraria. Não me entenda mal, você me permitiu avanços, graças a você consegui andar por terras estrangeiras com segurança, mesmo que de forma superficial. Você foi o álibi contra o medo, a rede embaixo do trapézio neste nosso grande picadeiro. Eu que sonhava em correr pelos campos abertos como uma legítima sagitariana, sentir o frio na barriga de um mergulho do alto sem saber o que encontraria na chegada. Não, não, não... Havia sempre você, o mal necessário. Um mal quando não era mais necessário, quando eu não percebia que não precisava mais de você. Mas eu era acostumada ao seu peso, ao seu encaixe, mesmo que isto mudasse a minha forma, minha anatomia...
Eis que por sorte, por destino, por falta de opção ou sei lá o que, a gente entra em contato com as partes mais silenciosas da alma, aquela do grito interno, a que nos mata nos fazendo perder o medo do que é novo, daquilo que não se entende e se entrega por completo à desorientação. Esta desorientação que me tirou da sonsa e inquieta rotina de prisioneira criando a coragem infantil de perder-me a ponto de te abandonar. Adeus 3ª perna. Ficamos por aqui. Agora somos eu, o mundo e o desconhecido.
Um comentário:
Andar desorientada de alguma maneira é a melhor maneira de se viver!!
Bonito o texto!
Beijos, querida.
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