domingo, 27 de fevereiro de 2011
Quanto é muito tempo?
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
Eu e a Cidade
Acabo sempre me surpreendendo como ainda consigo me encantar com esta cidade. Lembro-me do dia em que fez uma mega nevoeiro durante a manhã e ninguém enxergava nada na Av. Paulista, todos aqueles prédios encobertos pela névoa, fotos em portais de notícias e eu toda empolgada, recém-chegada a São Paulo, salvei as fotos e mandei para os meus amigos. Uma das respostas foi: “Deus me livre, como você consegue achar lindo toda esta névoa cinza?” Parece loucura, principalmente por ter nascido numa das cidades mais coloridas e ensolaradas do mundo, mas aquilo me encantou de tal forma, os prédios cobertos, num jogo de esconde-mostra dependendo da movimentação da neblina, os engravatados, na sua correria habitual, muitos sem perceber o que acontecia por receio de perder a hora...
Final de semana passado, mais um momento aparentemente simples, cotidiano e comum na vida de tantos paulistanos, me furtou vários pensamentos e contemplações. Cheguei a um lugar onde a cartilha sobre o uso das cores fora totalmente esquecida em algum lugar. O padrão era não ter padrão, tudo muito colorido, muito piscante, muito confuso: aquários, pisca-piscas, coisas que não sei definir penduradas no teto, um globo, um karaokê e gente, muita gente... Dentre elas a pequena proprietária do estabelecimento, carregando o espírito do tudo se recicla, sempre dava um jeito de comer as sobras das mesas todas as vezes que ia ajudar um garçom a limpá-las, um operador de karaokê, ou melhor, de som com o maior mau-humor do mundo, além de ser do signo da vingança que fazia questão de colocar no final da fila o seu papel com o nome da música que você iria cantar caso você tenha olhado enviesado para ele enquanto você fazia seu caminho até ao banheiro. Mas o visual kitsch que me encantou no começo foi sendo substituído por aquilo que eu mais sou apaixonada: as pessoas.
E daí que você só consegue cantar sua primeira música lá pelas 2h30 da madrugada? Durante este tempo, você ri com a espera, com os nomes trocados, com a companhia, com a ladra de música alheia, com o grupo de amigos bêbados, etc. Algumas vezes eu me peguei pensando e olhando para tantas pessoas de diversas classes sociais, diversas tribos num lugar tão peculiar: cowboys, senhores, emos, turistas, todos coexistindo, neste micro universo de uma cidade cosmopolita e todos reunidos pela vontade de cantar. Não foi somente rir dos desafinados, cantar junto uma música conhecida, ir para a turma do gargarejo engrossar o coro, rir e conhecer mais as pessoas que estão ao seu lado, foi também conhecer um pouco das pessoas através das suas músicas, das suas escolhas e imaginar o porquê delas, o que elas causam, o que elas trazem o que determinada música representa na vida de cada um e na minha vida.
Primeiros sinais de luz e o olhar contemplativo volta a fazer a mente viajar em meio aqueles pastores evangélicos já despertos com seus paletós e bíblias embaixo do braço de um lado e do outro os rostos cansados, sonolentos, com suas maquiagens borradas, o dia e a noite se encontrando em um dos símbolos mais emblemáticos desta cidade: o metrô. E eu, a ilustre desconhecida, agradecida por sentir e registrar as mutações faiscantes desta cidade que me fascina.
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
Cisne Negro...
Cisne Negro é uma experiência audiovisual quase que perturbadora sobre quão tênue é a linha entre o nosso domínio sobre a mente e o domínio da mente sobre nós. E gostei tanto que o assisti duas vezes. Ambas em companhia diferentes o que acabou me permitindo apurar o meu olhar sobre o filme. A personagem Nina, é escolhida para interpretar o papel principal numa releitura do “O Lago dos Cisnes”, nesta versão, a mesma bailarina interpreta o cisne branco e o negro. A todo o tempo, a personagem principal é desafiada a deixar aflorar o cisne negro que nela habita. No decorrer das cenas, a impressão que nós temos é a de que o negro é aquele que carrega toda a passionalidade, todo o brio, toda a gama de sentimentos quentes necessários para transformar um cisne tranqüilo, perfeito em seus movimentos em algo arrebatador. E se fosse somente isto, a proposta do filme teria sido incrível. Porém, o filme traz uma alerta sobre o contato com a caixa-preta que temos todos guardados. Tais quais as caixas-pretas de avião, sempre que é necessário abri-las é porque alguma coisa está fora da ordem. E ao mexer nesta caixa-preta nunca saberemos ao certo o que sairá de dentro. A personagem sobre abusos emocionais por parte da mãe, carrega o peso de toda a projeção e frustração da mãe por não ter dito uma carreira consolidada na dança e assim criou sua filha de forma infantilizada, castradora, projetando de forma subliminar e manipuladora, sonhos e desejos. A Nina, na ânsia de provar para o diretor que a escolha nela foi a correta, passa dia e noite ensaiando desesperadamente e tentando ao máximo entrar em contato com este Cisne Negro. São poucos os que conhecem as próprias fragilidades, pouquíssimos os que sabem exatamente o que encontrarão na caixa-preta. Entre delírios, alucinações, surtos e auto-flagelação, a personagem finalmente consegue “pôr” para fora o cisne negro, transformando-se literalmente em um, numa das cenas mais hipnotizantes do filme. Mas como eu disse no começo, a linha é tênue, quase que inexistente e ninguém sabe o que virá depois de se entrar em contato com tantos sentimentos.
Para quem assistiu ao filme, sabemos o que exatamente acontece com a personagem. E nós saberemos o que irá acontecer conosco?